domingo, 22 de julho de 2012

Não prolongar

 

 

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Destrancou a porta e adentrou o cômodo, ao fechar a porta permaneceu encostada na velha porta branca (poderia ser facilmente ser confundida com um tom de bege). Sua cabeça pendeu para trás até encontrar a porta, fechou os olhos lentamente tentando não espantar as lágrimas, sentia que os pés estavam dormentes e quando conseguiu se afastar da porta parecia não sentir onde pisava.

Segundos depois, quando já estava debaixo das cobertas na enorme cama de casal, ela chorou, chorou e chorou; e o travesseiro dele abafou seus gritos de desilusão e dor mais as lágrimas que não paravam de chegar. Quando se sentiu um pouco mais calma virou-se de barriga para cima e encarou o teto branco iluminado pelo seu abajur de aquário e por algum momento pensou que sentiria falta daquele aquário se um dia o jogasse fora, afinal, o objeto não tinha culpa de portar tantas lembranças. E voltou a chorar, não com tanto desespero como antes, dessa vez as lágrimas eram necessárias como respirar e não como uma comida mal digerida. Mesmo não se sentindo confiável para sair da cama ela levantou e permaneceu por um tempo com os pés sobre o chão gelado, no fundo queria saber se ainda era capaz de sentir e percebeu que seus pés não sabiam mais o que era frio ou quente, talvez, tivesse perdido o chão. Decidiu tomar um banho e quando se levantou quase caiu, estava tremendo, mas com muita determinação conseguiu chegar até o banheiro, recusou-se a encarar o espelho, era muita humilhação. De baixo da água quente ela chorou, chorou e chorou; e o banheiro abafou seus gritos de desespero e angustia. Gritou e chorou sem medo, sem orgulho, sem plateia, nada importava agora era o seu momento, o momento de ser menos o que outros esperam e mais do que realmente é. E foi naquele banheiro que jogou tudo para os ares ao gritar até a sua garganta arder, ao chorar e ver que estava com o rosto coberto de maquiagem. Ela não sentiu medo, não sentiu nada, apenas alivio, alivio de poder ser ela mesma nesse momento tão difícil.

Quando abriu a porta do banheiro deu um grande sorriso e decidiu que tudo que passara, tudo que gritara e chorara tinha limpado todas as mágoas, todas as feridas, estava purificada. A partir daquela porta as lágrimas eram parte do passado e sua dor havia ido pelo ralo, não ia mais sofrer, não por isso, não por ele. Passou, passou. E ela conseguiu sorrir com o coração...

2 comentários:

  1. As vezes é preciso morrer de vez, com gritos e sofrimentos, pra viver de novo.

    http://fazdecontatxt.blogspot.com.br

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  2. É preciso colocar as coisas ruins pra fora, externar os sentimentos, viver o momento (bom ou ruim). Eu acredito que uma noite pode ser longa e triste, mas a manhã vira para renovar os corações... Mesmo que a noite pareça interminável e triste.


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    Adorei o comentário no meu blog, saiba que eu compartilho os mesmos sentimentos com voce. Seria muito bom se um dia eu tivesse a oportunidade de conversar com vc, contar minhas dores... Na verdade, eu gostaria muito de te ouvir, tudo que voce sente, sua melancolia.

    Gostei muito das suas palavras doces... Você é uma pessoa querida!

    Beijo grande

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