terça-feira, 12 de junho de 2012

Tempo pra viver e outro para correr.

Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...

Quando pequena corria pela casa. Na cozinha a música das panelas mais o cozinhar de sua mãe no fogão era o ritual de todos os dias, enquanto a pequena brincava que aquela humilde casa poderia ser um castelo ou apenas o que lhe viesse em mente. Na garagem o pai tentava arrumar um carro que era quase parte da família, debaixo do velho motor ele dizia- Não corra por aqui! Têm ferramentas para todos os lados!- quase brigando, mas quase também querendo dizer que conhecia a filha e sabia que a pequena vivia com a cabeça no mundo da lua. Como era bom viver.

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro...

Era tudo um faz de conta, era tudo de verdade e tínhamos tempo para tudo. Tempo para ver os olhos um do outro no café da manhã e saber sobre os sonhos e pesadelos que tivemos durante a noite. Era mais fácil surgir uma conversa sobre qualquer coisa, sobre qualquer pessoa, mas a pequena sentia-se mesmo feliz quando fingia estar dormindo e do sofá o seu pai a pegava no colo, tarde da noite, e a levava para quarto enquanto dizia para sua esposa- nossa pequena está ficando grande para os meus braços! Mas não me canso de carrega-la, pois sinto alegria em saber que ela ainda está aqui correndo por essa casa, rindo e fazendo de conta com tudo. A pequena sentia alegria em ver alegria nos seus amados pais. Era bom demais.

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...

Não precisavam de muitas coisas, nem muitos motivos, ela não precisava de muitos brinquedos para ser uma criança feliz, sua felicidade estava em deitar na cama e escutar o som da casa, sua mãe cantando enquanto limpava algum cômodo da casa ou quando seu pai procurava por algum livro – Onde está aquele livro, sabe Amélia? Aquele que comprei naquela nossa viajem... – A pequena do seu quarto ria, ria com o livro em mãos que seu pai procurava, era um livro velho, cheio de anotações sobre uma viajem que seus pais fizeram a Europa antes de se casarem, a pequena gostava parecia que estava lá, sem ser convidada e essa era a melhor parte.

Como era gostoso viver. Escutar o som da casa. Escutar o som dos pratos sendo lavados. Do carro sendo arrumado. Escutar seus próprios passos rápidos pela casa. Ver a casa nova ficar velha. Ver sua mãe limpando enquanto conversava com uma planta ou outra. Sentir o beijo suado do seu pai depois que chegava de um dia daqueles no trabalho. Era tão doce aquela rotina. Era tão viciante viver feliz, simples e humildemente. Era tão... Perfeito.

Até que um dia descobriu porque corria tanto, porque nunca parava quieta. Corria tanto aquela menina, aquelas pequenas pernas... Um dia, depois que cresceu descobriu que corria para fugir do tempo, que vinha depressa para lhe pegar, lhe fazer moça e deixar pronta uma mulher, com sua própria casa e sua própria pequena.

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também..

 

Zamboattila120502_4_large

Música: Andrea Doria- Legião Urbana

4 comentários:

  1. Era tão viciante ser feliz...

    #Gostei (e muito) da sua crônica! Busquemos as coisas simples então!

    #Beijo!

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  2. Que texto lindo *_* Me recordei da minha infância onde tudo era mais simples, incrível e novidade. Saudade, se tem fase melhor que aquela ainda não foi descoberta. Já estou te seguindo, seu blog é uma fofura e seus textos lindos flor! Grandes beijos, até ^^

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  3. Permita-me: A menina se fez viciante. Linda demais!

    Onde aperta pra ler mais?

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