quinta-feira, 21 de junho de 2012

Crises do ‘não ser’.

 
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Era tarde da noite e na cama ela se perdia em pensamentos que não queria ter, seus pés estavam gelados e seu corpo quente, sua mente fervia e seu coração queimava. Era fogo, aqueles que ardem sem se ver.
Decidiu sair daquela agonia e minutos depois, na sacada do seu apartamento, estava fumando um cigarro em plena madrugada paulistana no frio da terra da garoa.
Enquanto fumava, tentava pensar sobre os seus sentimentos “como estava de saco de cheio de tudo, todos; na verdade, mais de si do que dos outros”. Inconformada, seria uma boa palavra para nomear um dos sentimentos que tanto a angustiava, queria mais daquela sua pobre vida, não queria ser malvada com Deus e dizer a ele que tudo estava dando errado, por que não estava, algumas coisas estavam no seu devido lugar, algumas relações iam bem, mas e aquela sensação estranha e inquietante que sempre a visitava?
Poderia ser qualquer hora da noite ou do dia, geralmente durante a noite, ela sentia vontade de ser mais do que parte de uma simples rotina “tudo bem, estava ficando velha...” Velha demais para ter crises de existência, velha demais para se sentir fora da velha moldura da sociedade, velha demais para dizer: sinto-me excluída pelos fatos normais e corriqueiros da vida. Velha demais...
Era um sentimento de liberdade que lhe estourava no peito, era uma vontade louca de ser mais um cidadão sem casa no mundo, ser do mundo, ser de todos os países e raças, apenas ser da estrada uma boa estrada com um carro, amanhecer o dia em cada lugar do mundo, sem rotina, sem horários de almoço e saída, sem neurose, sem chefe, sem pessoas para agradar ou relacionamentos para ter, sem...
eu sinto isso?” sempre se perguntava. Pois doía, tanto, tan-to... Seu coração latejava de dor por querer ser mais do que apenas era... E por mais que amasse sua família e alguns amigos, tinha vontade de largar tudo, de pegar a sua câmera e uma mochila e sair por ai fotografando e falando sobre cada canto escuro e claro desse mundo. “Têm tantas coisas para se conhecer...”.
E no final daquele cigarro sentia-se mais calma, mas não menos ansiosa, mas não menos cansada de tudo, mas não menos sossegada, mas não menos apreensiva, mas não menos...
Deixa pra lá” e apagou o cigarro... Afinal, amanhã era outro dia, mais um dia...
 
 
 
 
 
Obs. Não incentivo às pessoas a fumarem. Aliás, eu não fumo, é apenas uma característica dos meus personagens. ( fica a dica) Bjs.

3 comentários:

  1. Fiquei pensando aqui depois de terminar uma latinha de cerveja, minha vida continua a mesma; com as minhas dores e angustias e com a mesma lucidez (infelzsmente...) mas a vida continua...

    enquanto ao meu post:

    A festa acontece dentro da gente, a mudança é unica e exclusivamente nossa.

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  2. Me identifiquei com sua pesonagem, me sinto com essa vontade de sair pro mundo, sem ter moradia, sem ter juízo, só querendo fujir da vida sufocante.

    http://fazdecontatxt.blogspot.com.br

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  3. Acho que a inquietude da alma é uma característica humana. E cada um deve tentar descobrir o que te faz sentir assim, mesmo que para isso seja preciso cair no mundo ou dar uma pausa dele.

    Bjos!

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