Obrigada pelo café.

 

 

Um relacionamento antigo, quando é recordado, é como rever uma pessoa que você não via há muito tempo, é rever uma parte de você mesmo que há muito tempo não visitava. É possível esquecer uma parte de si mesmo?

Antigamente eu pensava que um dia iria esquecer você e das datas que você estragou como o primeiro dia do mês de Março ou dia 18 de Abril, também pensava que iria conseguir escutar algumas músicas que não me permitia mais ou usar roupas que simplesmente parei de usar depois que você me deixou. E eu consegui. Eu te esqueci, fato. Não tem mais por quem sofrer, não tenho mais motivos para sofrer eu, finalmente, superei você, mas porque ainda me lembro de você?

Às vezes eu até gosto de lembrar do seu sorriso e de como me sentia ao vê-lo, era um sentimento verdadeiro, e hoje, mais velha, mais experiente, com menos sofrimento, eu percebo que tudo que senti foi muito bom, até a parte do sofrimento, tudo pela primeira vez marca e deixa saudades, tenho saudade de quando conheci você de como acreditava que o pra sempre existia e que nós dois dávamos certo sim, que você gostava de mim enquanto eu já tinha essa certeza a muito tempo. Tenho saudades, é lamentável eu sei, da saudade que sentia de você, da época que as nossas lembranças ainda estavam frescas em minha mente, do seu cheiro que facilmente eu conseguia lembrar durante uma tarde qualquer. Enquanto hoje o único cheiro que sinto saudade, depois de dois dias sem, é do meu bom e fresquinho café. Eu troquei você pelo café? Troquei você pelos meus livros? Deixei de ser sonhadora para ser uma daquelas mulheres que só se importam com o trabalhado e transam quando da certo? Me tornei alguém sem sentimentos? Ou me tornei uma mulher bonita, que gosta de fazer exercícios, bem sucedida e que tem casos com homens por acaso, só para não cair na rotina de ser só? Será que sou um homem preso no corpo de uma mulher? Será.... Será tantas coisas que não sei como parar de me perguntar ou como calcular o estrago que você fez em mim. Mas, às vezes eu me lembro de como eu era e ao invés de sentir saudade de você ou de nós eu tenho saudade de mim, uma garotinha, uma jovem garotinha que no auge de seus 14 anos se apaixonou perdidamente pelo garoto mais popular da escola e ele a escolheu também, fez declarações e em um belo domingo a levou para ver o sol se por. Eu tinha mais fé nos meus sentimentos. Era mais feliz mesmo com um coração angustiado, mesmo percebendo que você não gostava de mim tanto assim, mesmo observando que você me tratava mais com uma amiga do que uma namorada. Sinto saudade de mim. Foi época em que tudo era mais fácil, a magia existia e o amor era tão fácil de sentir, as palavras fluíam naturalmente e eu não tinha medo de dizer que eu estava com tanta saudade de você que meu coração estava doendo. Eu sentia alguma coisa. E por meses senti tantas outras coisas ruins, mas era para você e você nunca soube, e nunca saberá, eu espero.

E se eu fosse uma escritora você seria o meu melhor livro. A obra que até eu mesma seria minha fã por ter tanta criatividade em ter criado. Mas você não é algo criei, é alguém que me fez sentir, logo de cara, amor a primeira vista, assim que vi você naquela palestra para calouros. Você estava ali ao meu lado com seu cabelo negro e olhos castanhos, com jeito seu de ser ‘um mau garoto’ e eu me apaixonei, perdidamente, me apaixonei. Hoje, depois de cinco anos, ainda me lembro de você, de nós, na nossa história, do quanto sofri, é claro, eu sou o que sou hoje por causa desse amor que não deu certo, afinal todo mundo tem a sua decepção, e a minha é você. A melhor parte é que mesmo sendo uma decepção, você é a pessoa que me fez sentir um amor imenso e intenso, me ensinou o é sentir saudade e que tudo tem o seu tempo, me ensinou, principalmente, o que é ter paciência. Passei meses lutando para não sentir mais nada por você e consegui. Hoje não sinto nada nem por você nem por ninguém outros caras são apenas os outros ‘caras’ que não querem nada sério quando eu quero e que querem algo sério quando eu não quero ou que não podem ter nada sério pois já tem algo sério. Hoje admiro você, olho para o passado e vejo como eu fui feliz de verdade, mesmo que por pouco tempo, quantas vezes temos direito a ser ‘literalmente, de corpo e alma, felizes?’ temos direito a quantos amores por vida? Eu não sei. E procuro não procurar saber. E é incrível até para mim, te agradecer em forma de oração ou em textos, mas, obrigada por ter feito aquela garotinha acreditar no amor, saber o que é saudade e aprender a ter paciência. Ah! E claro, e a gostar de café também.